19 abril 2008

Se for genuína, lamento a melancolia que impregna a sua crónica de 19.04.08.

Ela fez-me lembrar, por simetria:

“Eh, marinheiros, gajeiros! eh tripulantes, pilotos!…
Homens que dormem em beliches rudes…
Gente de boné de pala! gente de camisola de malha!…
Quero ir convosco, quero ir, convosco…”

Nem mais, a Ode Marítima!
Nela o Poeta exalta a luta pela sobrevivência, conhecedor que já era em 1915 de que afinal os homens são só bichos a tentar sobreviver, como os outros bichos.

Você, Joel Neto, confessa-se comovido e melancólico (isto é, paralisado) perante as formas de que se reveste essa luta (10 euros de gasolina, velho à procura do caminho para casa, operários que deixaram de ir a casa no Natal).

Essa melancolia atinge-nos a todos quando, ao virar da esquina, tomamos consciência da nossa fragilidade, da nossa precariedade.

Nesses momentos temos saudades do tempo em que estávamos dentro do ventre da nossa mãe, aonde tudo nos era dado e nada nos era pedido em troca.
Nesses momentos choca-nos constatar a realidade de termos que lutar para sobreviver, como era antigamente na Selva, com a agravante de hoje a selva ser de betão e asfalto, e os nossos predadores já não serem tigres, leões ou cobras venenosas, mas sim bichos muito mais perigosos e sofisticados; serem os próprios homens!

Mas como dizem os gurus da Gestão:
“devemos encarar as adversidades como desafios para vencer e nunca como um caminho para a derrota”, nem que para isso, digo eu, tenhamos que tomar antes um cálice de absinto (como fazia o Poeta) ou meio comprimido Prozac (como se faz nos tempos modernos).
O Novo Testamento é tão somente um conjunto de conselhos destinados a explicar aos homens uma forma inovadora e vantajosa de jogar o jogo "Dilema do prisioneiro".
Todos os seres vivos que de alguma forma trocam informação entre si, jogam constantemente este jogo. Os seres mais inteligentes aprenderam, com a prática, que a estratégia mais segura para actuar neste jogo é a de "trair sempre", pois os ganhos assim obtidos podem ser poucos mas nunca se corre o risco de tudo perder. (algumas vezes esta estratégia revela-se altamente lucrativa).
Porém, na convivência dos homens em sociedade, esta estratégia não é a melhor, pois constata-se que "fazer o bem sem olhar a quem" é, no longo prazo, mais lucrativo que o clássico "olho por olho, dente por dente".
Está provado cientificamente que o egoísmo é a arma mais poderosa que todo o ser vivo dispõe na luta pela sobrevivência. Por isso é legítimo afirmar que a mensagem central do Novo Testamento pode ser hoje enunciada como: "O altruísmo é a forma mais inteligente de ser egoísta".
Os sábios que deram a redacção final aos evangelhos da Igreja Romana, no tempo do Imperador Constantino, tiveram a tarefa enorme de imaginar a forma de transmitir esta mensagem para ser assimilada por toda a gama de estados culturais dos crentes. Esse foi o grande desafio da Igreja, e o grande desafio dos papas que quiseram adaptar essa mensagem aos tempos em que viveram. A tarefa não foi fácil, como se sabe. Para Bento XVI também não está a ser.
Há 20 anos, o Manolito, menino sérvio a viver na província do Kosovo, “chingava” o Tonico, menino albanês da sua turma. Chamava-lhe “albana”. Não sabia bem porque o fazia embora intimamente sentisse uma vaga ameaça por ter de conviver diariamente com tantos albaneses; os colegas da escola tinham todos 5 irmãos, ou mais, sem falar com “os que vinham a caminho”, bastava olhar para as mães deles, quase todas com grandes barrigas, esperando o fim das aulas, à porta da escola!

Que gente esquisita, dizia o Manolito; volta e meia atiram-se para o chão, virados para Meca. Nunca os vejo na missa!

Na turma do Manolito os miúdos eram todos brancos.



O racismo é uma reacção natural (porque determinada pela natureza biológica do ser). Tem a ver com a sensação de insegurança que sentimos quando temos que conviver com indivíduos que não partilham os nossos hábitos culturais e que concorrem connosco na disputa dos recursos disponíveis (alimentação, habitação, saúde, educação, etc.). É um sentimento de génese biológica que não ajuda à convivência pluricultural, sobretudo em territórios aonde os meios de sobrevivência atrás referidos são escassos.



Pregar contra o racismo, o ciúme, a inveja, etc, sem explicar como é que surgem e para que servem é como dizer ao menino que deve lavar as mãos antes de comer sem explicar porquê. Só dá para esquecer!

02 abril 2008


Dá-me o telemóvel


A professora esteve mal, pois deixou que o confronto físico se estabelecesse. Como responsável pela disciplina dentro daquela sala, devia ter ordenado à aluna que pusesse o telemóvel encima da secretária do prof. para aí ficar até ao fim da sala. Se a aluna recusasse dava-lhe ordem de expulsão da sala. Essa ordem é essencial para que volte a reinar a disciplina a seguir a uma dupla desobediência (não entregar o telemóvel e recusa de sair da sala).
O prof. perde a razão sempre chega ao contacto físico com o aluno que quer dominar. Pois o aluno pode dizer "não lhe admito que me toque", com razão! E perde a razão sempre que necessita de gritar para se fazer ouvir, pois isso é "não se dar ao respeito". Os jovens, mais que os adultos, farejam à distância as pessoas que não se dão ao respeito.