30 junho 2009

Desemprego

"O trabalhador por conta de outrem é o maior inimigo da economia". É a ideia que se tenta impingir à opinião pública desde há décadas. Pois sendo a produtividade a grande culpada da falta de competitividade da economia (portuguesa, europeia), quanto mais automatizadas estiverem a indústria e os serviços, melhor.
Esta lógica destruiu milhões de postos de trabalho nos últimos 20 anos, conduziu à utilização maciça de autómatos programáveis e robots na indústria, caixas automáticas nos bancos e nos transportes, e na Internet foram transferidas para o utilizador muitas tarefas que eram executadas por pessoas que faziam isso, mas no seu emprego. Em duas Repartições de Finanças que visitei ultimamente, mais de metade das secretárias não tinham ninguém lá sentado. Reparando melhor percebe-se que o mesmo funcionário anda de secretária em secretário fazendo o trabalho que era de vários há uns anos.
Só não chegámos mais cedo à actual situação de desemprego porque entretanto foram aparecendo actividades não produtivas que absorveram a população que se destinava aos postos de trabalho suprimidos, e porque a tendência demográfica é para a diminuição da população activa e para o envelhecimento.
Porém o prato da balança na guerra produtividade / emprego pendeu definitivamente para o lado da produtividade, da tecnologia. Se não quisermos que as pessoas morram à fome por falta de emprego temos que recorrer à política do subsídio. Em breve teremos um exército de pobres a viver de subsídios e meia dúzia de iluminados a carregar em botões (de autómatos ou de teclados de PCs).
É a minha visão do futuro.

5 comentários:

Anónimo disse...

Olá,

É uma visão muito pessimista, mas que tem fundamento.
É mais que sabido que Portugal dificilmente chegará a atingir níveis já gozados por outros países,mas talvez essa nossa diferença negativa nos ajude a sobreviver, que é o que melhor sabemos fazer. Safar, desenrascar...Como nunca atingimos a excelência vamos sofrer menos.
Antes do 25 de Abril o país era de dois ou três, depois vivemos alguns anos na embriaguez e agora ao acordarmos isto é outra vez de dois ou três...sim porque os outros países só querem cá vir como turistas, está tudo a ir embora.

A nível mundial acho que caminhamos para o "Admirável Mundo Novo". E a passos largos.

Irene

Manolo Heredia disse...

Irene,
Doce ingenuidade...
Quem manda em Portugal já não são os portugueses. No tempo de Salazar mandavam meia-dúzia de famílias, hoje mandam meia-dúzia de multinacionais estrangeiras.
O meu texto não é pessimista. Lembre-se que no ano 2000 em todo em toda a UE só 10% da população activa é que trabalhava na produção. Isto é, trabalhava a fazer coisas que as pessoas precisam (pão, mobiliário, automóveis, telhas, cerveja...). Isto significa que as outras 90% são só consumidores. Ou têm um emprego em actividade não produtiva e têm bom poder de compra, ou vivem de subsídios que só chegam para sobreviver.

Anónimo disse...

Não concordo com a ingenuidade.

Quando digo que o país é outra vez de dois ou três, penso que tenho razão (Sonae, Semapa, Amorim...), não há oportunidades para o comum mortal. Os ambientes de trabalho são cada vez piores, as pessoas fazem DE TUDO para safar a pele.
As multinacionais estão a ir embora,salvo as excepções dirigidas ao consumo (Ikea, Corte Ingles...).
Agora a questão da produção ou melhor da não produção que leva à subsídio-dependência, é fatal.

Bom,até 14 de Julho tenho de preparar a minha apresentação, vou trabalhar mais um pouco.

Irene

Manolo Heredia disse...

Nada disso, Irene:
Essas empresas grandes que se fazem passar por empresas nacionais não têm capital maioritariamente português. O Ricardo Salgado e família não controlam o BES, nem os Q. Pereira a SEMAPA, nem o Belmiro a SONAE. Eles são testas-de-ferro de sindicatos financeiros que detêm a maioria do capital dessas empresas e que mandam nos portugas-gerentes.
Os verdadeiros donos das economias nunca dão a cara.

Anónimo disse...

Considero que isto tá feio mas acredito na capacidade inventiva humana de dar a volta.
Sem dúvida, que a lógica de todo este sistema, desde a revolução industrial, seria de ter mais para se trabalhar menos e fazer-se o que se gosta.
Esquecemos foi que este ter mais originou a sociedade de consumo que nos absorve a grande maioria do tempo.
Mas das crises algo melhor há-de vir. A história não se repete mas a memória não se esquece.
Aos poucos a humanidade vai tendo a consciência que, no meio deste planeta todo, o que vale mesmo a pena é a humanidade.
Os continentes já não são o que eram há um século atrás. Muitos deles estão a renascer outros a morrer. Entre eles o velho continente europeu e o mitificado continente americano que não se limita aos Estados Unidos da América.
O desenvolvimento das tecnologias e, principalmente, as ligadas à internet ( 1 bilião de pessoas a utiliza) de coisas más tiveram o bom de, em segundos, termos a consciência do que se passa no outro lado do mundo. Não é preciso esperar pela carta do correio ou pelo mensageiro :-)