Se for genuína, lamento a melancolia que impregna a sua crónica de 19.04.08.
Ela fez-me lembrar, por simetria:
“Eh, marinheiros, gajeiros! eh tripulantes, pilotos!…
Homens que dormem em beliches rudes…
Gente de boné de pala! gente de camisola de malha!…
Quero ir convosco, quero ir, convosco…”
Nem mais, a Ode Marítima!
Nela o Poeta exalta a luta pela sobrevivência, conhecedor que já era em 1915 de que afinal os homens são só bichos a tentar sobreviver, como os outros bichos.
Você, Joel Neto, confessa-se comovido e melancólico (isto é, paralisado) perante as formas de que se reveste essa luta (10 euros de gasolina, velho à procura do caminho para casa, operários que deixaram de ir a casa no Natal).
Essa melancolia atinge-nos a todos quando, ao virar da esquina, tomamos consciência da nossa fragilidade, da nossa precariedade.
Nesses momentos temos saudades do tempo em que estávamos dentro do ventre da nossa mãe, aonde tudo nos era dado e nada nos era pedido em troca.
Nesses momentos choca-nos constatar a realidade de termos que lutar para sobreviver, como era antigamente na Selva, com a agravante de hoje a selva ser de betão e asfalto, e os nossos predadores já não serem tigres, leões ou cobras venenosas, mas sim bichos muito mais perigosos e sofisticados; serem os próprios homens!
Mas como dizem os gurus da Gestão:
“devemos encarar as adversidades como desafios para vencer e nunca como um caminho para a derrota”, nem que para isso, digo eu, tenhamos que tomar antes um cálice de absinto (como fazia o Poeta) ou meio comprimido Prozac (como se faz nos tempos modernos).
1 comentário:
Manolo só quem passou tormentas no mar, pode entender a psicanálise, essa coisa de desejar o quentinho, tranquilo e seguro útero materno, hoje já pode ser um tubo de ensaio (proveta)...
A "Mensagem" foi um dos livros que me acompanhou quando andei nos mares, momentos houve em que vi ateus de mãos erguidas a orar, procuravam a salvação em vez do útero materno mais seguro, aquela almofada feita de líquido amniótico, na maior parte feito de água e sal, feito de mar, no fundo...
Um abraço
Carlos Rebola
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